Era feliz!
Quando criança me apaixonei
intensamente por uma menina que assim como eu devia ter seus oito anos. O
engraçado é que aos oito anos quando se está apaixonado tudo parece exagerado.
No fundo achava que morreria caso a garota não me desse uma chance e sempre que
a via passava a mão no lado esquerdo da cabeça num sinal evidente de
nervosismo. Na naquela época vivia numa
cidade pequena e ainda e logicamente por se desenvolver, morava numa casa
pequena, feita de estacas de madeira e talos de folhas da palmeira Babaçu. A
casa era revestida de barro e coberta de palha, também de Babaçu.
A rua era grande, e alguns metros,
depois da minha casa, finalizava numa curva que dava pra um alagado de água
suja. Brincávamos na rua de barro, meu irmão inspirado no beisebol americano,
passou a chamar um jogo em que colocávamos uma lata de óleo de um lado, outra
do outro, e quatros “jogadores” reversavam em um taque improvisado de acordo
com regras pré-estabelecidas, de beisilata. Sim, pois nessa época não existia
óleo comestível em embalagem pet, somente em lata. Dai, obviamente o nome
beisilata. Era um mundo sem fim de amizade, companheirismo e diversão.
Nas férias íamos para um interior
muito pequeno chamado Núcleo Oito. Lá moravam meus avós. Brincávamos muito com castanha de caju,
algumas vezes colocávamos um sabugo de milho enfiado na areia e tentávamos
derrubar ou pelo menos acertar o alvo. Pela manhã, eu, meu irmão e meus primos,
nos juntávamos aos nossos outros primos que já moravam nesse interior para
acompanhar meu avô na busca do gado. Era bom demais tirar leite às seis horas
da manhã, ainda quentinho das tetas que o bezerrinho estava louco pra mamar. As
vacas em geral eram bem bravas, um simples descuido e poderia custar até a
vida, mas valia apena curtir aquele momento, logo estaríamos de volta e ai só
no outro ano.
Hoje lembro com saudade daquela época
tão especial, tempos de criança e quando se é criança, tudo o que mais se
espera é que o tempo passe velozmente para se alcançar a maioridade. Lembro
quando apanhava - principalmente do meu pai – e pedia pro tempo passar depressa
pra sair logo daquela vida, ou então quando pedia pra minha mãe me deixar ir
pro rio e ela dizia não e eu chorava o dia inteiro e dizia só pra mim que
fugiria pra sempre. Muitas vezes pedir pra Deus acelerar o tempo pra que ao
completar dezoito anos eu pudesse logo de uma vez tomar conta da minha vida e
não precisar dá satisfação a ninguém. Hoje, no entanto, pediria mil vezes a
Deus pra que ele me levasse de volta pelo menos um dia àquele tempo tão
especial em que fui tão feliz e por algum motivo não pude perceber!
Autor: João Carlos Spindola
Todos os direitos reservados.
Águas Lindas GO, 29 de março de 2013.
12:08h Am
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